Adoção tardia e de grupos de irmãos: o que é preciso saber

Adoção tardia e de grupos de irmãos: o que é preciso saber

Adoção tardia e de grupos de irmãos: o que é preciso saber

por SECOM/VIJ — publicado 2022-07-14T09:30:00-03:00

Supervisor da área de adoção da VIJ-DF responde às principais dúvidas sobre o tema em entrevistA entrevista

Crianças mais velhas, adolescentes e grupos de irmãos integram o perfil menos buscado por quem adota no DF. Se de um lado 85% das quase 600 famílias habilitadas buscam crianças com até 3 anos, de outro 90% dos 116 meninos e meninas cadastrados para adoção têm idade superior à desejada. Os grupos numerosos de irmãos somam-se ao perfil recorrentemente rejeitado pelas famílias. Cerca de 70% até aceitam acolher mais de um filho, no entanto, o número cai para 20% quando se trata de grupos a partir de três crianças ou adolescentes. 

Para aumentar as chances desses meninos e meninas que não correspondem ao perfil desejado pelos pretendentes habilitados no Sistema Nacional de Adoção (SNA), a Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (VIJ-DF) criou o Em Busca de um Lar. Em sua terceira fase, a iniciativa procura uma família para quem já passou da idade mais desejada pelos pretendentes, para grupos de irmãos, crianças e adolescentes com deficiência ou problemas de saúde, os perfis menos buscados no acolhimento adotivo.

Supervisor da área de adoção da VIJ, Walter Gomes. Homem com pele branca, cabelo cortado baixo da mesma cor da barba, grisalhos. Ele usa uma camiseta amarela por baixo de um blazer preto com listras brancas. No segundo plano, um quadro. O psicólogo Walter Gomes, supervisor da Seção de Colocação em Família Substituta da VIJ-DF (SEFAM/VIJ-DF), esclarece nesta entrevista os principais pontos da adoção tardia e de grupos de irmãos.

1 – O que diferencia a adoção de uma criança do perfil clássico da adoção de um adolescente ou de um grupo de irmãos?

Qualquer adoção deve estar assentada em legítimas razões e garantir o bem-estar superior do adotando. O fio condutor de qualquer adoção deve ser o princípio do amor incondicional e o desejo de exercer uma paternidade ou maternidade responsável. Evidentemente que o perfil do adotando poderá impor maiores desafios e exigir mais disponibilidade dos requerentes.

O perfil clássico da adoção, que envolve crianças de tenra idade, é com certeza a modalidade mais procurada e a que, via de regra, não apresenta quaisquer riscos de eventual desistência por parte do postulante. Por outro lado, a adoção de natureza tardia, que envolve crianças de faixas etárias avançadas, adolescentes ou pré-adolescentes, é uma modalidade que exigirá maior engajamento e proatividade do postulante. Diferentemente de um bebê, as crianças maiores, pré-adolescentes ou adolescentes já apresentam padrões de comportamentos e de sentimentos estabelecidos, gostos e preferências já constituídos, maior capacidade de autonomia e criticidade.

Em razão disso, a adaptação e a construção dos vínculos de afetividade e de parentalidade demandarão maior tempo e mais investimentos psicoafetivos. Não raro, alguns postulantes acabam desistindo e optando pelo arquivamento do processo de adoção. Ser pai ou mãe por adoção resulta de uma construção diária, em que as trocas afetivas, a dedicação, a entrega, a responsabilidade e o cuidado fazem parte de um processo ininterrupto de sedimentação do pertencimento familiar.

2 – Quais são os impedimentos mais apresentados a essas duas formas de adoção?

São impedimentos para qualquer tipo de adoção a falta de motivação adequada; o ambiente familiar incompatível com a natureza da medida; a incapacidade afetiva; não apresentar potencial para o exercício das funções paternas ou maternas; não demonstrar que o projeto de adoção é prioridade na agenda de vida da família; confundir adoção com apadrinhamento afetivo ou assistência social.

3 – O que deve ser ponderado pelas famílias antes de adotar?

Primeiro, qual o lugar que o adotando ocupará na vida da família. Segundo, qual o nível de motivação e de disponibilidade existente para investir na construção de vínculos parentais e filiais. Terceiro, a que o postulante está disposto a renunciar para concretizar o projeto de adoção. Quarto, se o desejo pela adoção é compartilhado por todos os entes parentais, se todos estão engajados e motivados. Por fim, se existe uma rede familiar de apoio e cooperação para o sucesso da adoção.

4 – Quais os principais desafios para concretizar as adoções de adolescentes e de grupos de irmãos?

Os principais desafios são ter disponibilidade e capacidade de investimento na alimentação dos vínculos de afeto e de confiança e aceitar a história de vida do adotando, não querendo adestrá-lo ou engaiolá-lo em supostos padrões de aceitabilidade social ou familiar. Ainda é necessário não transformar crises e desentendimentos inerentes ao processo de construção de laços parentais em motivos escapistas para a desistência e não incorrer na tentação de querer reduzir o adotando, que é um sujeito de direitos, a um mero objeto que pode ser descartado ao sabor das circunstâncias. É preciso compreender ainda que adoção não é um ato, é um processo, portanto algo que faz parte de uma lenta e gradativa construção que envolve amor, dedicação, entrega e intenso desejo de estar juntos e dar certo.

5 – Qual a importância da rede de apoio em uma adoção?

A rede de apoio é indispensável para o sucesso de qualquer adoção. Ela garante o estímulo, o bom conselho, o compartilhamento de sentimentos, a retaguarda nos momentos de cansaço e dúvidas, o fomento a reflexões e a tomadas de decisão. Uma eficaz rede de apoio contribui enormemente para o aprofundamento dos vínculos de afeto e para o fortalecimento dos papéis parentais.

6 – Existe um perfil mais recorrente de quem opta pela adoção de adolescentes e grupos de irmãos?

O postulante que se abre para essa modalidade de adoção, via de regra, apresenta um conjunto pronunciado de determinadas características: disponibilidade emocional e psíquica para se entregar ao processo de construção de vínculos; clareza e convicção quanto ao perfil desejado; compreensão das implicações e dos desafios presentes em uma adoção tardia; disposição para procurar todos os recursos possíveis para que as dificuldades e intercorrências sejam superadas e a adoção se cerque de segurança e adequação; conta com uma forte e densa rede de apoio e não hesita em acioná-la quando necessário; não confunde adoção com “test drive” e não admite que a desistência seja cabível em um projeto de adoção. Este é o lema desse candidato: “Desistir, nunca. Recuar, jamais!”.

Saiba mais

Confira a história de duas famílias que adotaram fora do perfil em episódio do podcast Prioridade Absoluta: https://atalho.tjdft.jus.br/3Dnjgk

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Fonte: TJDFT