CIJ-DF realiza Círculo Empático com a rede de proteção de crianças e adolescentes
A Coordenadoria da Infância e da Juventude do TJDFT (CIJ-DF) realizou, nesta terça-feira, 23/11, o Encontro Inaugural dos Círculos Empáticos da Rede de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente do DF. O objetivo é criar espaços seguros e coletivos para a prática da conexão humana e da empatia, por meio da metodologia da Comunicação Não Violenta (CNV), entre os diversos profissionais que atuam na rede.
O evento no formato on-line aconteceu pelo Zoom, com transmissão simultânea pelo YouTube, e contou com a participação de cerca de 100 pessoas. Nesse primeiro Círculo Empático, representantes de equipes técnicas de serviços de acolhimento de crianças e adolescentes do DF ocuparam o lugar de fala como protagonistas do encontro para expor sua realidade, dores, desafios e anseios enquanto profissionais da rede.
O encontro foi aberto pelo assessor administrativo da CIJ-DF, Gelson Leite, que agradeceu a todos que abraçaram a proposta e ao juiz Renato Scussel, coordenador da CIJ-DF, por apoiar a realização dos Círculos Empáticos e o fortalecimento da atuação integrada dos atores da rede de proteção da infância e da juventude do DF. “Estamos reunidos para exercitar o acolhimento, o não julgamento, a abertura para o novo, a escuta e a fala conectadas e genuínas, ambiente fértil para o desenvolvimento da empatia”, disse o assessor.
O Círculo Empático foi facilitado pela condução do voluntário Eduardo Batista, professor de Gestão da Inovação na UnB, com mais de 1300 horas de experiência como facilitador para o desenvolvimento de grupos em projetos sociais, escolas, grandes empresas públicas e órgãos públicos federais. No encontro, Eduardo trouxe aspectos conceituais do Círculo Empático e da CNV para situar os participantes em relação à metodologia utilizada. “A empatia requer exercício, precisa de ação”, ressaltou.
Sentimentos acolhidos
O espaço central de fala foi ocupado por Denilson Melo, da Casa do Carinho, Aline Ferreira, do Lar de São José, Julia Salvagni, do programa Família Acolhedora, Márcia Tomé e Márcio Leite, da Casa de Ismael, representando os serviços de acolhimento. Com depoimentos emocionados, todos expressaram sentimentos como abandono, medo, descrédito e desrespeito sofridos no dia a dia da atuação como profissionais.
Entre as questões trazidas, Denilson Melo levantou a necessidade de valorização e respeito aos técnicos das entidades de acolhimento, que, segundo ele, por vezes são tratados como inferiores no contexto da rede de proteção infantojuvenil. Aline Ferreira reforçou a fala do colega e também destacou o apego aos acolhidos como algo inevitável, importante e transformador, visto que os profissionais dos serviços de acolhimento é quem convive diariamente com essas crianças e adolescentes.
“O afeto é que revoluciona”, afirmou Julia Salvagni. Ela expressou ainda seus sentimentos em relação a desconfianças e atitudes por parte de alguns profissionais da rede de proteção, por falta de um diálogo mais efetivo e respeitoso. Já Márcia Tomé refletiu sobre a necessidade de atuação conjunta. “Há uma expectativa heroica em relação aos serviços de acolhimento, mas não somos heróis. É preciso atuar juntos”, ponderou.
Márcio Leite reforçou a importância dos profissionais dos serviços de acolhimento na vida das crianças e adolescentes afastados de suas famílias. “Nós é que somos presença para esses meninos. A gente precisa fazer a voz deles ressoar. O abandono que eles sentem é o que sinto enquanto profissional”, compartilhou. Ao final de cada fala, o facilitador do Círculo deu alguns segundos de silêncio para que as outras pessoas pudessem acolher com empatia o que foi exposto.
Empatia para avançar
De acordo com Gelson Leite, a proposta dos Círculos Empáticos é aprofundar a conectividade entre todos os atores da rede de proteção infantojuvenil do DF por meio da empatia. “A necessária segmentação de competências não deveria condenar ninguém ao isolamento, ao individualismo, e nem representar um obstáculo à empatia e à cooperação mútua. A efetivação dos direitos da criança e do adolescente depende da coparticipação de todos os atores e órgãos que compõem o sistema de garantia de direitos infantojuvenis”, avaliou.
Para o assessor da CIJ-DF, a empatia alarga horizontes. “Quando vivenciada, a empatia tem o poder de nos libertar da visão condicionada e limitada sobre pessoas, instituições e fatos. Passamos a enxergar o outro para além das aparências, da suposição. Ela nos tira da invisibilidade e passamos a existir. Daí, impulsionados pela empatia, podem surgir movimentos de colaboração, de solidariedade, de apoio mútuo. Conhecer o outro no seu cotidiano profundo é uma jornada necessária para a efetividade do trabalho em rede”, concluiu Gelson.
Presenças
O encontro foi prestigiado ainda por profissionais da Vara da Infância e da Juventude, dos Conselhos Tutelares, das Secretarias de Estado de Justiça e Cidadania, Desenvolvimento Social, Educação, Trabalho e Saúde, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do DF, do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, bem como por outras entidades apoiadoras da iniciativa, como o Grupo Aconchego, o Sistema S, o Observatório Social, a Escola do Parque da Cidade, a Associação dos Jovens Empresários do DF, a Casa Azul Felipe Augusto, a Companhia do Metropolitano do DF, a Associação Pestalozzi, o Sindjus-DF e a Fundação CDL, além da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF).
Os participantes que conseguiram ingressar pelo Zoom e não estavam como protagonistas do círculo foram divididos em grupos, após as falas dos representantes dos serviços de acolhimento, para participar de salas de conexão e práticas – ambientes de aprofundamento do tema com grupos focais e prática de escuta empática. A iniciativa da CIJ-DF de realizar Círculos Empáticos da Rede de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente do DF foi avaliada pelos presentes como positiva e necessária. Outros encontros serão marcados para dar continuidade à ação e possibilitar o lugar central de fala a demais profissionais da rede.
Fonte: TJDFT