CIJ/TJDFT promove círculo empático com a participação de conselheiros tutelares
Nesta terça-feira (31/5), aconteceu o 2º Encontro dos Círculos Empáticos da Rede de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente do DF, promovido pela Coordenadoria da Infância e da Juventude do DF (CIJ/TJDFT), pela plataforma Zoom com transmissão para o YouTube. O objetivo do projeto é criar espaços seguros e coletivos para a prática da conexão humana e da empatia entre os diversos profissionais que atuam na rede, por meio da metodologia da Comunicação Não Violenta (CNV).
Cerca de 70 pessoas participaram desta edição como ouvintes, e cinco conselheiros tutelares, representando todo o colegiado do DF, foram convidados a ocupar o centro do círculo: Iran dos Santos Magalhães (Águas Claras), Samara Brito (Paranoá), Gustavo Henrique Camargos (Planaltina II), Francisca Pereira (Sobradinho II) e Lucyanna Dias (Sobradinho I).
O encontro foi facilitado pelo assessor da CIJ-DF, Gelson Leite, juntamente com o voluntário Eduardo Batista, especialista em Inovação e Design Thinking, professor de Gestão da Inovação na UnB, formador e assessor da Rede Salesiana Brasil, com mais de 1300 horas de experiência como facilitador para o desenvolvimento de grupos em projetos sociais, escolas, grandes empresas públicas e órgãos públicos federais.
Ao abrir o evento, Gelson Leite agradeceu a participação de todos os convidados e os incentivou a exercitarem a escuta respeitosa e disponível para os cinco conselheiros que ocupavam o espaço de fala no centro da roda empática. “A qualidade desse encontro depende da qualidade de nossas presenças, por meio de escutas e falas conectadas. O círculo é uma oportunidade de conhecer os bastidores e entender como as pessoas sobrevivem. Vamos dar apoio, sustentação, proteção a quem está no lugar de fala. A escuta começa com nossa disponibilidade interna”, disse o assessor.
A metodologia do círculo empático
O facilitador Eduardo Batista explanou sobre a CNV como metodologia para o círculo empático, explicando cada um de seus três pilares: escuta empática, expressão autêntica, autoconexão. Ele situou os presentes sobre a proposta do círculo. “Um espaço onde vamos promover a paz, criar ambientes de conexão. Antes de tudo, a empatia não é só um sentimento de ação, mas de espaço comum, onde todos possuem desejos e necessidades que precisam de estratégias diferentes para atendê-los”, explicou o facilitador.
Gelson apresentou inicialmente a coordenadora técnica do Lar de São José, Aline Ferreira, que participou do 1º Círculo Empático, ocorrido em 23/11/2021, ocasião em que os técnicos dos serviços de acolhimento ocuparam o centro da fala. Aline contou sobre a sua experiência. “Quando me dispus a estar no centro do círculo, eu escolhi expor a minha humanidade. Sou intensa e movida a paixões. Não conseguiria ser diferente na minha atuação profissional. Hoje, depois de tanto caminho percorrido, eu consigo lidar bem com isso. No último círculo, eu permiti que caíssem as lágrimas e as pessoas me acolheram”, disse emocionada ao passar o bastão da fala aos conselheiros tutelares.
Com a palavra, os conselheiros tutelares
“Falar de garantia de direitos é a cada dia sentir a dor do outro. É tocar as famílias, trazer o sorriso e a alegria muitas vezes esquecida”, disse a conselheira Samara Brito ao relembrar emocionada casos que atendeu e nos quais precisou intervir de forma mais atuante e humanizada para conter uma situação emergencial. “Todos nós nos sentimos tocados pelas nossas crianças e adolescentes e às vezes limitados por não conseguirmos mudar uma realidade”, declarou.
Em seu espaço de fala, a conselheira tutelar Francisca Pereira, mais conhecida por Nice, trouxe algumas situações pelas quais passou em sua longa jornada na função desde 2006. “Quando alguém vem ao Conselho Tutelar, é por necessidade. É a tábua de salvação em busca de socorro, é um lugar de escuta. Vem em busca de uma medida e damos a liberdade para falarem”, sintetizou.
O conselheiro Iran Magalhães carrega consigo um ensinamento marcante repassado no início da sua trajetória pela promotora de justiça de Defesa da Infância e da Juventude do Distrito Federal Luisa de Marillac, presente ao círculo. Segundo Iran, em sua primeira capacitação, a promotora teria dito para não se desesperarem e procurarem observar a situação como um retrato que integra o filme da história da criança e do adolescente. “O que chega para nós faz parte de um filme. Há por trás um contexto familiar. Procuro não julgar aquele ato de violação de direito”, disse o conselheiro. E acrescentou ao final de sua fala: “Somos uma rede. Dependemos um do outro e eu compreendo que nem tudo está ao meu alcance”.
Em sua curta caminhada no Conselho Tutelar, Lucyanna Dias afirmou que tem sido intensa e reconheceu o valor da função de conselheira: “O cargo vai além de atender e requisitar o serviço público. É itinerante. Temos que sair a campo em busca de soluções para as crianças e adolescentes. Precisamos ser propositivos. Estamos na ponta, sabemos quais são as violações e devemos propor melhorias naquela localidade”.
O conselheiro Gustavo Henrique ressaltou que é preciso respeitar o princípio da permanência, dar continuidade na linha de atuação e melhor estruturar os conselhos. Gustavo também falou sobre acolhimento às pessoas que os procuram: “Sair de casa para falar com as pessoas que nunca viram é um grito de socorro que deve ser, no mínimo, acolhido. O conselheiro ou qualquer pessoa que atue no sistema de garantia deve enxergar a criança como sujeito de direitos. O processo é lento, mas precisa de ação para mudar”.
Após as falas, os conselheiros foram redirecionados para salas de conexões e práticas – ambientes de aprofundamento do tema com grupos focais e prática de escuta empática. Os ouvintes relataram como as falas ressoaram neles, quais sentimentos afloraram e como poderiam lidar com as necessidades de uma forma prática no contexto diário dos atores da roda.
Conectados, somos potentes
Ao final do evento, a promotora Luisa de Marillac levou uma palavra de incentivo aos presentes: “Com essa metodologia do círculo empático, estou enxergando as pessoas além do lado profissional. É importante articular nossos papéis, e antes precisamos nos compreender. Eu sou a conselheira tutelar, a cuidadora, a técnica da entidade, sou Anjos (Rede Solidária Anjos do Amanhã), sou VIJ (Vara da Infância e da Juventude), eu sou rede. Quando cada um de nós conseguir se sentir assim, seremos conectados e potentes”.
Depois de dois encontros de círculo empático com atores da rede de proteção infantojuvenil, Gelson Leite faz uma síntese: “Ninguém passa ileso, a gente é impactado, se reconfigura como pessoa e como operador social, e isso gera dentro de nós movimentos colaborativos em direção ao outro e uma percepção mais ampliada do contexto do ator do centro do círculo”.
Presenças
Participaram como ouvintes do círculo representantes do Poder Judiciário local, da Promotoria de Justiça, da Defensoria Pública, de organizações sociais e de áreas governamentais ligadas à educação, saúde, desenvolvimento social, justiça e cidadania. O TJDFT contou com a presença de Márcio Alves, supervisor do programa social Rede Solidária Anjos do Amanhã, da VIJ-DF; Bárbara Macêdo, supervisora da Seção de Assessoramento Técnico da Vara de Execução de Medidas Socioeducativas do DF; e Thaís Botelho, secretária executiva da Comissão Distrital Judiciária de Adoção/TJDFT.
Fonte: TJDFT